sábado, 6 de outubro de 2012

Leitura de Sábado

Mulher andando nua pela casa
envolve a gente de tamanha paz. 
Não é nudez datada, provocante.
É um andar vestida de nudez,
inocência de irmã e copo d’água.

O corpo nem sequer é percebido 
pelo ritmo que o leva.
Transitam curvas em estado de pureza,
dando este nome à vida: castidade.

Pêlos que fascinavam não perturbam.
Seios, nádegas (tácito armistício)
repousam de guerra. Também eu repouso.

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A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica. 

Não lhe importa o que vai pela frente do corpo.
A bunda basta-se.
Existe algo mais?
Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmea
sem rotundo meneio.
Anda por sina cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte por conta própria. E ama. 
Na cama agita-se. Montanhas 
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda.
Vai feliz na carícia de ser e balançar 
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda 
redunda.

(Carlos Drummond de Andrade em O amor natural, 1992)

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