sexta-feira, 2 de março de 2012

O ruído depois que o avião passa

Pela rua por onde voltava escutou um caso daquela redondeza. Dez caras querendo matar um. Só que trazia o sorriso alegre da garota do caixa, o seu olhar, o seu possível erro no troco. Quando acordou no início da tarde notou certo pedido sem qualquer reação. Vestiu a roupa devagar. Poderia ser um ator, mas a vida sem espetáculo falava mais alto. Os seus cantos poderiam estar em pé de guerra. Desistiu por uns instantes. Quando topa com pessoas é sempre assim: o que tem nas mãos funciona conforme o aperto do cumprimento. De tanto escutar a sua voz, transbordou no que diria pra si mesmo, um caso a mais e o que vale entre o dito e o não dito.


A luz do poste se ascendeu lá onde as crianças costumam soltar pipas. Parece um tempo novo. Algo dos escombros. Deve ser dessa forma. As pessoas simplesmente vivem. Aquele papo de portão. A mulher queria saber alguma coisa, ou, não sei, explicava sobre o que a planta fazia quando se tem pressão alta. Primeiro de longe achou que ela falava sozinha, só que tinha outra mulher mais ao fundo. Papo de conhecidas. O calor é sempre bem-vindo. Três moleques preparavam um cigarro de maconha perto do colégio. Havia o desenho de um homem orelhudo na parede à direita. Uma careta pra quem passa. Agora é noite, e pelo visto estava certo. Nesse dia de hoje o tempo foi o mais seco do ano. Lembrou os trejeitos de um gago. A palavra correta demorou a aparecer. Não é o amor que está voltando. É o teu ódio que está te deixando respirar.

Daí fosse construir diretrizes quando chegasse a hora devida. Talvez se redimisse dizendo o que aconteceu por bares que funcionam até tarde. Mas sabe que não funciona dessa maneira. Destruiu a câmera num chute forte. Isso! Agora estava com essa mesma reação. Passou o dedo no peito como uma navalha em busca de um rasgo. Precisava desenhar as feridas. Visualizou o poste com a luz acesa e o fim da tarde, e a cor azulada das nuvens. Por isso mesmo que estava vivo. Para abrir e fechar a porta. Descruzar os pés e andar. Fazer errado só para encarar. O calor é sempre bem-vindo. Poderia tocar violão de óculos escuros num lugar aberto. As mulheres estariam ao sol e você esqueceria as letras quando prestasse atenção no movimento até a água. Desdizer o que afirmam outros textos.

Agora é noite. O sorriso da menina do caixa era a sua última peça do quebra-cabeça. Será que aquela gangue conseguiu pegar o cara? Existem fatos que em determinados momentos ainda não se tornaram notícias de jornal. O que se passa numa cabeça à prêmio?

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