quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O bilhetinho azul com os seus garranchos

Um dia me passaram o número de um telefone celular que segundo me disseram era da polícia militar daqui de Brasília. Se por ventura eu tivesse algum problema e precisasse acionar o 190, ao invés de perder tempo, a melhor coisa a ser feira era ligar para o tal número. Nunca precisei ligar. Ainda bem. Mas fiquei curioso. E guardei anotado numa agenda. Depois resolvi gravar no meu próprio celular.  E ficou lá vários meses, quietinho, sempre me atiçando a curiosidade. Será que é da polícia mesmo? Esqueci. Nem me lembrava mais até me encontrar com uns amigos numa mesa do boteco. Enquanto o papo transcorria na santa paz de Deus percebi que um amigo estava mal. Chateado e deprimido porque tinha acabado o namoro. Falava da mulher com os olhos mareados. Parecia até que ia chorar. O cara estava down. Sugeri que bebesse um whisky. Algo forte faz a gente ficar anestesiado. Tão lembrados daquela música dos Ramones – I wanna be sedated? Mas o meu amigo não quis o cão engafarrado e continuou na cevada. Numa mesa próxima havia quatro amigas tomando chopp. Cada uma mais bela que a outra. Três morenas, e uma loira. Todas animadinhas. Nós ficamos todos ali de bobeira. Se caísse na área era pênalti. Só que o meu brother ficou lá, quieto, sem nenhuma vontade pra nada, e olha que o cara sempre foi o primeiro a partir pra cima. Namoro mal acabado detona qualquer um. Dá pra entender. Resolvemos deixar o cara quieto. Pois chifre é um troço complicado. 

Até que eu fui ao banheiro e tive uma ideia de primeira. Chamei o garçom, pedi uma caneta e um bloquinho de anotações. Fiz um bilhete mais ao menos assim: “Poxa, não sei nem como te dizer, mas é que eu te achei lindo. Sei lá, acho que tô atirada demais, mas não me leve a mal, se você quiser me conhecer, tô aqui na mesa ao lado”. Daí, assinei: Thaís, juntamente com o número do celular da polícia militar. Bom, numa tacada só iria animar o meu amigo e de quebra também descobrir se o tal número era dos “homi” mesmo. Nisso veio um amigo querendo saber o que eu estava armando com o garçom. Contei a ele, e ficamos os três rindo. 

Então voltei a mesa como se nada de estranho estivesse acontecendo e virei o meu copo tranquilamente. O garçom chegou com o bilhete, e entregou. Quando o meu amigo leu, porra, o cara deu um pulo de felicidade. Nunca vi uma autoestima subir de zero a 100 tão rápido. O chifre caiu da testa dele sem pestanejar. E logo começou a nos encher o saco dizendo que mal entrara no bar e a mulherada já estava em cima. Foi então que comecei a incentivá-lo a ligar para a “Thaís”. “Liga cara! Larga de ser otário! A mulher tá de quatro por você, bicho”. “Calma, calma, preciso tomar mais alguns goles, não posso chegar assim de cara, tô com o semblante legal? Dá uma olhada aqui.” “Tá! Porra... Se você ficar bobeando aí, algum sacana vai chegar primeiro e vai levar a gata, depois já era viu...” Mas ele não ligava nunca. E eu só ficava pensando: a ligação vai cair na polícia, a ligação vai cair na polícia, hahahaha”. De repente o papo acalmou. O garçom passou rindo lá na porta do bar. E as meninas continuavam mais animadas do que nunca. Comecei a indagar qual seria a Thaís entre as quatro da mesa. “Deve ser aquela morena de cabelo amarrado”. “Não! Deve ser a loira”. “Que isso! Deve ser aquela mais bunduda, ela é um tesão, ela deve ser a Thaís”. E eu continuava pensando: ah quando a ligação cair no batalhão de polícia vai ser bom demais, só quero ver. 

Mas infelizmente, ele não ligou, porque, contaram a verdade, e aí não deu em nada. Então fica assim, se você receber um bilhetinho em alguma mesa de bar fique esperto porque eu descolei agora o número da penitenciária da Papuda. Se você quiser conhecer a deliciosa da Thaís, basta somente ter coragem, e digitar os números. Agora se não tiver. Não dê bobeira, a área tá cheia de gavião à espreita.

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