terça-feira, 14 de junho de 2011

A Noite Sem Nenhuma Anotação

A noite nem sempre começa do jeito que você quer, ou acaba do jeito que você imagina. Mas sempre me senti bem quando escurece. E aí a lua sai, as estrelas ficam brilhando lá no alto sempre no mesmo lugar. Quando era moleque ficava na maior vontade de curtir a madrugada. Ficava pensando como deveria ser legal ficar na farra até ao amanhecer. Como era se divertir até tarde. Descobri a noite ainda moleque. 16 anos.  No início saia sozinho e ficava até a meia noite. Voltava pra casa contando os postes. Se não me engano do balão até aqui deve ter uns 25 postes.

E com o passar do tempo fui descobrindo a noite na sua totalidade. Tinha época em que os meus pais reclamavam me perguntando se a noite estava curta. E eu dizia que estava porque passava tão rápido. O papo era tão bom, e ver o dia amanhecer parecia tão poético. Outra noite passava por uma rua e avistei uma turma num banquinho. Uma parte sorria, contava piada, e a outra espiava os carros.  De alguma maneira parecia que eles não queriam estar ali. Mas um dia eles vão descobrir que é justamente esse não compromisso o melhor da noite. A diversão não programada. A satisfação de ter a noite como um presente. A vida já é obrigação até no bom dia, né.  Só que a noite segue. Acho que nesses anos fiquei mais tarimbado no assunto. Digo mais tarimbado. Não um PhD. Ainda vacilo. Mas tenho percebido que ando mais atento. Procuro não me meter em encrenca. Em discussões inúteis. Você vê muita gente encarando a noite de maneira equivocada.

A grande maioria sai com intuito de que vai conseguir solucionar, ou esquecer os seus problemas. Ledo engano. A noite não deixa por menos. Já quebrei a cara em várias ocasiões. Briguei com amigo. Quebrei cadeira em bar. Às vezes você sai de um jeito e volta pior. Chega de uma forma e sai com questões que não são suas. É quase obrigado a pensar em coisas que não te dizem respeito, mas, no entanto, você tem que saber lidar. É a hora em as pessoas vão falar sobre você, vão comentar a respeito do seu modo, vão dizer isso, e aquilo, então do outro lado você escuta atento, e descobre o quanto elas mal te conhecem, e você deixa quieto, não tá muito afim de interferir, e até se assusta com tantos erros, ou acertos cruéis. A noite tem a sua poesia, mas maltrata a gente com uma porrada na cara quando menos se espera. Quantas noites bacanas. E quantas de pura decepção, e encheção de saco, e encrenca das brabas. Ainda assim não consigo viver sem a noite. É a hora que me sinto bem. Mais confortável na minha a alegria ou na minha tristeza. A noite sempre me intriga. Mas aí aquele papo antigo que era bom, hoje você vê que se tornou palestra. Os porras louca de anos atrás não conversam mais, hoje eles sentam-se a mesa, e palestram cheios de noções, e mais argumentos cirúrgicos.

Fico com a impressão que se esqueceram de anoitecer. Ainda estão presos ao dia. E é por isso que a noite tem dos seus perigos. Se você vacilar, você é garfado. Vi uma menina enchendo a cara, e depois os “amigos” ficaram sacaneando. Inclusive nem deram bola quando a pobre estava passando mal. Ela vomitou na mesa inteira. A noite é implacável. Não é pra qualquer um. Eu amo a noite. É o momento em que a gente escolhe a melhor roupa. Sai afim de espairecer a cabeça. Acha que a noite vai ser boa pra caralho e quebra a cara. Fiquei mais tarimbado. Vou na manha. Tomo cuidado com os conselhos. Aliás, odeio conselhos. E eles estão por todos os lados. A noite sempre pode nos aprontar alguma. Ou pra melhor, ou pra pior.

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Quando vi essa menina cantei alguns trechos dessa música (aqui) só pra mim. E quando algum detentor da verdade aparece querendo me envolver em seus argumentos e visões de mundo; costumo cantar essa (aqui). Som de primeira! Uma boa dose de cinismo pode cai bem.

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